INTRODUÇÃO
O termo Pentateuco é a denominação mais comum para
descrever os primeiros cinco livros da Bíblia. A enorme quantidade de material
legal no Pentateuco (metade de Êxodo, a maior parte de Levítico, grande parte
de Números e praticamente todo o Deuteronômio) levou à designação comum Lei
ou Livros da Lei.
Até o Iluminismo do século xviii, havia consenso entre as tradições
judaica e cristã de que o testemunho do Pentateuco revelava Moisés como seu
autor. Muitos estudiosos declaram positivamente as contribuições significativas
de Moisés para a formação do Pentateuco, mas sustentam que a forma final
desses livros evidencia algum trabalho de edição posterior à época de Moisés.
Alguns críticos radicais têm
negado a possibilidade de envolvimento sobrenatural de Deus na história e
questionado a fidedignidade da história que se encontra no Pentateuco (veja “Os
Métodos da Crítica e o Antigo Testamento”).
Deuteronômio, o último livro do
Pentateuco, foi composto por Moisés nas campinas de Moabe (Dt 1.1-5; 4.44-46;
29.1) pouco antes de sua morte (Dt 31.2, 9, 24). Os primeiros quatro livros
provavelmente compartilham o mesmo período e local de origem. Gênesis, Êxodo e
Levítico, porém, podem ter sido escritos já por ocasião da convocação no Monte
Sinai, trinta e oito anos antes.
A descrição do Pentateuco como torah,
“instrução”, revela de imediato o seu propósito: educar o povo de Israel acerca
de sua identidade, sua história, seu papel entre as nações da terra e seu
futuro. O propósito verdadeiro e último da literatura bíblica não pode ser
separado de sua mensagem teológica. O Pentateuco procurava informar o povo de
Deus sobre sua identidade e foco.
Os intérpretes assumem uma das
três abordagens principais do Pentateuco como fonte histórica:
1) Muitos intérpretes lêem o
Pentateuco como um relato fiel dos eventos.
2) Críticos radicais
desconsideram o Pentateuco como uma fonte para história.
3) Outros vêem o Pentateuco
principalmente como uma interpretação teológica de pessoas e acontecimentos
reais.
Muitos estudiosos entendem que as
descobertas da arqueologia científica relativas à Bíblia servem para confirmar
que o Pentateuco se encaixa bem melhor exatamente no ambiente do segundo
milênio a.C. em que o at o situa.
A importância fundamental e a
relevância do Pentateuco residem em sua teologia, não em sua historicidade ou
mesmo em sua forma literária e conteúdo. O grande tema do Pentateuco, portanto,
é o tema da reconciliação e da restauração. A criação de Deus, tendo sido
afetada pela desobediência humana, necessita de restauração.
Gênesis
O
livro de Gênesis toma seu nome da versão grega do Antigo Testamento (a
Septuaginta), que o chamou Genesis, termo que significa começo.
As tradições judaica e cristã têm atribuído de maneira quase
unânime a autoria de Gênesis a Moisés (veja “O Pentateuco”).
Tema
O nome Gênesis descreve pelo
menos um dos principais temas do livro — as origens. As origens, porém, não são
um tema-síntese inteiramente satisfatório, pois não há resposta à questão
histórica e teológica fundamental —por quê? Saber porque Deus agiu na criação e
pela redenção é compreender a verdadeira essência da revelação divina.
Formas literárias
As três principais seções de Gênesis são caracterizadas por
tipos literários distintos. Os eventos primevos (Gn 1–11) são dispostos em uma
forma de narrativa poética para ajudar a transmissão oral.
1) As narrativas sobre
os três primeiros patriarcas – são relatos mantidos em registros familiares.
2) A narrativa de José - é um breve conto, com tensão e
resolução.
3)
Tipos menores tais como genealogias, narrativas em que Deus aparece, palavras
de
Deus,
bênçãos e ditados tribais.
Propósito e teologia
O propósito de Gênesis era dar à nação de Israel uma
explicação sobre sua existência no limiar da conquista de Canaã. A mensagem
teológica de Gênesis, porém, vai além dos interesses limitados de Israel.
Gênesis de fato dá a razão de ser de Israel, mas faz mais do que isso. Explica
a condição humana que clama por um povo da aliança. Isto é, revela os grandes
propósitos criativos e redentores de Deus que têm seu foco em Israel como
agência de recriação e salvação.
ESTRUTURA DO TEXTO
O ALVO DA CRIAÇÃO DE
DEUS:DOMÍNIO, BÊNÇÃO E RELACIONAMENTO
|
1.1¾2.25
|
O PECADO, SUAS
CONSEQÜÊNCIAS E A GRAÇA SALVADORA DE DEUS
|
3.1—10.32
|
A bênção do domínio e
a maldição do pecado
|
4.17—5.32
|
A libertação pela
graça de Deus e a obediência de Noé
|
6.1—9.29
|
A reafirmação da
bênção de Deus
|
10.1-32
|
A confusão em Babel
|
11.1-32
|
ABRAÃO: A OBEDIÊNCIA DA FÉ
|
12.1—22.19
|
As promessas de Deus:
descendentes, bênção e terra
|
12.1-9
|
As promessas sob
ameaça
|
12.10-20
|
Alcançando a promessa
de terra
|
13.1-18
|
Possuindo a terra,
abençoando os vizinhos
|
14.1-24
|
A promessa da descendência
e da terra
|
15.1-21
|
O esforço humano para
concretizar a promessa de Deus
|
16.1-16
|
A reafirmação da
promessa de herdeiro
|
17.1—18.15
|
Uma bênção sobre as
nações vizinhas
|
18.16—19.38
|
A ameaça à promessa
de herdeiro
|
20.1-18
|
O cumprimento da
promessa de herdeiro
|
21.1-34
|
A obediência e a
bênção de Abraão
|
22.1-19
|
ISAQUE: O ELO COM AS
PROMESSAS DE DEUS A ABRAÃO
|
22.20—25.18; 26.1-33
|
A LUTA DE JACÓ PELAS
PROMESSAS
|
25.19-34; 27.1—36.43
|
O começo da luta
|
25.19-26
|
A luta pelo direito
de primogenitura
|
25.27-34
|
A luta pela bênção
|
26.34–28.9
|
A fidelidade de Deus
quanto às suas promessas
|
28.10-22
|
A luta continua
|
29.1—31.55
|
O retorno à terra
prometida
|
32.1—33.17
|
A ameaça da
assimilação
|
33.18—34.31
|
A reafirmação das
promessas
|
35.1—36.43
|
A LIBERTAÇÃO MEDIANTE
JOSÉ
|
37.1—50.26
|
A mensagem para hoje
Uma contribuição óbvia do livro de Gênesis ao mundo moderno é
a sua explicação sobre as origens das coisas que não poderiam ser entendidas de
nenhum outro modo. Ou seja, ele tem valor científico e histórico, mesmo que
este não seja seu propósito principal.
Mais fundamentalmente, Gênesis lida com a essência do
significado do fato de os seres humanos terem sido criados à imagem de Deus.
O valor ético
O efeito horrível do pecado é um dos temas admiráveis de Gênesis.
Além da história da “queda”, cada relato em Gênesis mostra às pessoas como
viver de modo vitorioso diante de elementos contrários a Deus que atuam neste
mundo decaído e descreve o que acontece quando fracassamos nisso. Os modelos de
fé e obediência —Abel, Enoque, Noé, Abraão e José são também instrutivos.
Êxodo
Êxodo, cujo significado é saída,
foi o título que a Septuaginta, tradução grega antiga do at, deu ao segundo livro da Torá (cf. Êx
19.1).
Alguns intérpretes entendem que as declarações contidas em
Êxodo apontam Moisés como o autor da forma final do livro. Os intérpretes que
aceitam a autoria tradicional de Êxodo sustentam que Moisés o colocou em sua
forma presente desde a peregrinação no Sinai até a conquista das planícies de
Moabe, logo antes de sua morte.
Tema
A perseguição de Israel no Egito; o nascimento de Moisés, seu
exílio em Midiã e sua volta para o Egito como líder de Israel; e o próprio
acontecimento grandioso do Êxodo —tudo isso leva ao ápice do compromisso da
aliança.
Um segundo grupo de estudiosos vê a presença de Javé com
Israel e em seu meio como o centro teológico do livro. Um terceiro grupo vê o
senhorio de Javé como o tema teológico central.
Formas literárias
Êxodo inclui vários tipos e gêneros literários, entre eles poesia,
textos de aliança e material legal.
A estrutura literária
Alguns intérpretes discernem uma estrutura geográfica.
Israel no Egito (1.1—13.16)
Israel no deserto (13.17—18.27)
Israel no Sinai (19.1—40.38).
Outros se atêm ao
conteúdo para esboçar Êxodo:
Livramento do Egito e
jornada em direção ao Sinai (1.1—18.27)
Aliança no Sinai
(19.1—24.18)
Instruções para o
tabernáculo e para o culto (25.1 —31.18)
Quebra e renovação da
aliança (32.1—34.35)
Construção do
tabernáculo (35.1—40.38)
Ainda
outros intérpretes focalizam um tema teológico central.
Propósito e
teologia
O livro de Êxodo é a história de dois parceiros em aliança
—Deus e Israel. Êxodo define o caráter do Deus fiel, poderoso, salvador e santo
que estabelece uma aliança com Israel. Êxodo também revela o caráter de Deus
por meio de seus atos.
Também define o caráter do povo de Deus. Olha ainda para o
futuro, para a terra da promessa, pois a terra era indispensável para Israel
ser uma nação plena.
O ápice teológico de Êxodo aparece em 19.4-6, que esboça a
verdadeira natureza de Israel e seu lugar no plano de Deus. Para Israel, ser
reino de sacerdotes implicava que o povo de Deus atuaria como mediador e
intercessor, pois esse é o âmago da função sacerdotal.
O chamado de Israel para a aliança era fundamentado, não em
seu mérito, mas na livre escolha de Deus: “vos levei sobre asas de águia e vos
cheguei a mim” (Êx 19.4).
ESTRUTURA DO TEXTO
A PRESENÇA SALVADORA
DE DEUS: A LIBERTAÇÃO DA ESCRAVIDÃO EGÍPCIA
|
1.1—13.16
|
A presença de Deus em
seu povo oprimido
|
1.1-22
|
A presença de Deus
com o jovem Moisés
|
2.1-22
|
Deus revela sua
presença a Moisés
|
2.12—4.17
|
A presença de Deus
com Moisés no Egito
|
4.18—13.16
|
A PRESENÇA
ORIENTADORA E PROVEDORA DE DEUS: A JORNADA EM DIREÇÃO AO SINAI
|
13.17—18.27
|
A PRESENÇA EXIGENTE DE DEUS: A ALIANÇA
DO SINAI
|
19.1—24.18
|
A PRESENÇA DO DEUS A
SER ADORADO: REGRAS PARA O TABERNÁCULO E PARA OS SACERDOTES
|
25.1—31.18
|
A PRESENÇA DE UM DEUS
QUE DISCIPLINA E PERDOA JUNTO A UM POVO DESOBEDIENTE
|
32.1—34.35
|
A PRESENÇA PERMANENTE
DE DEUS JUNTO A UMA COMUNIDADE OBEDIENTE E QUE O ADORA
|
35.1—40.38
|
A mensagem para hoje
O livramento do êxodo está para o Antigo Testamento assim
como a morte e ressurreição de Cristo estão para o Novo Testamento — o ato
central, definitivo, pelo qual Deus intervém para salvar seu povo.
O livramento no êxodo, a aliança sinaítica, a experiência no
deserto e a promessa de uma terra fornecem modelos da vida cristã. Os cristãos
vivem sua peregrinação no deserto do sistema deste mundo como que correndo rumo
à terra eterna da promessa ainda por vir e desfrutando dela.
O valor ético
Deus salvou seu antigo povo de Israel e fez aliança com ele,
exigindo dele um estilo de vida coerente com esse chamado santo. Os Dez
Mandamentos são uma expressão do próprio caráter de um Deus santo, fiel,
glorioso e salvador. Mesmo os “estatutos” e “julgamentos” voltados
especificamente para o Israel do Antigo Testamento exemplificam padrões de
santidade e integridade, sendo partes indispensáveis do que Deus espera de seu
povo de todas as épocas.
Seria possível citar muitos outros exemplos, mas esses são
suficientes para mostrar que Êxodo é eterno em sua importância moral e ética,
bem como teológica.
Levítico
O nome
Levítico vem da antiga tradução grega, a Septuaginta, que intitulou a
composição Leueitikon, ou seja, (O Livro dos) Levitas. Os
levitas, porém, não são as personagens principais do livro.
O último versículo de Levítico localiza o livro em seu
contexto nas Escrituras: “São estes os mandamentos que o Senhor ordenou a Moisés, para os filhos
de Israel, no monte Sinai” (27.34).
Tema
O propósito geral do livro de Levítico era comunicar a
maravilhosa santidade do Deus de Israel e delinear os meios pelos quais o povo
poderia ter acesso a ele.
Formas literárias
Com exceção de poucas passagens narrativas e uma seção de
bênção e maldição, Levítico consiste em material legal, particularmente de
natureza cultual. A maior parte desse material é altamente estruturada em forma
quase poética.
A
forma legal da maior parte de Levítico (prescrições e estatutos) dá a entender
que ele pertence a um texto de aliança. De fato, ele trata das exigências da
aliança que regulam os meios pelos quais a nação e os indivíduos israelitas
poderiam estabelecer e manter o devido relacionamento com o Senhor Deus.
Propósito e teologia
Israel era uma “nação santa”, ou seja, uma nação separada
para ser povo especial de Deus. Tendo aceitado esse encargo da aliança, Israel
tornou-se vassalo de Deus, o mediador de sua graça salvadora para todas as
nações da terra.
Para ser uma nação santa, Israel precisava de um meio pelo
qual essa santidade —ou separação — pudesse ser mantida. Israel precisava de um
conjunto de orientações que estipulassem cada aspecto daquele relacionamento
entre a nação e seu Deus.
Levítico esboça como Israel podia prestar a devida homenagem
a Deus para cultivar e manter a relação criada pelo compromisso mútuo com a
aliança.
Por fim, o Deus soberano ordenou não só princípios de acesso
pelos quais seu povo-servo devia achegar-se a ele, mas também designou períodos
e lugares especiais.
ESTRUTURA DO TEXTO
A NECESSIDADE DE
SACRIFÍCIO
|
1—7
|
Os holocaustos
|
1.1-17
|
Ofertas de manjares
|
2.1-16
|
Ofertas pacíficas
|
3.1-17
|
Ofertas pelo pecado
|
4.1—5.13
|
A oferta pela
transgressão
|
5.14—6.7
|
Sacerdotes e ofertas
|
6.8—7.38
|
A NECESSIDADE DE
MEDIADORES SACERDOTAIS
|
8—10
|
A consagração de
sacerdotes
|
8.1-36
|
A função dos
sacerdotes
|
9.1-24
|
O fracasso dos
sacerdotes
|
10.1-20
|
A NECESSIDADE DE
SEPARAÇÃO ENTRE O PURO E O IMPURO
|
11—15
|
Animais puros e impuros
|
11.1-47
|
A impureza após o
parto
|
12.1-8
|
A impureza da
enfermidade
|
13.1—14.57
|
As emissões impuras
|
15.1-33
|
A NECESSIDADE DE UM
DIA DA EXPIAÇÃO
|
16
|
A NECESSIDADE DE UM
VIVER SANTO
|
17—25
|
Sacrifício e sangue
|
17.1-16
|
As relações sexuais
|
18.1-30
|
Os relacionamentos
interpessoais
|
19.1-37
|
As ofensas capitais
|
20.1-27
|
O culto e a santidade
|
21.1—22.33
|
Os dias santificados
|
23.1-44
|
Consagração e
profanação
|
24.1-23
|
O Ano Sabático e o
Ano do Jubileu
|
25.1-55
|
A BÊNÇÃO E A MALDIÇÃO
|
26
|
AS OFERTAS DE
DEDICAÇÃO
|
27
|
A mensagem para hoje
O livro de Levítico, sem dúvida, é um dos mais negligenciados
do at, exatamente porque os
cristãos de hoje não conseguem ver sua importância para a vida atual. Quando,
porém, se percebe que seus principais temas ou ideais —a santidade de Deus, sua
aliança com seu povo e as conseqüentes exigências de um viver santo— são
eternos e irrevogáveis, torna-se imediatamente clara a pertinência do livro.
O valor ético
Os rituais de Levítico encontram
seu cumprimento no sacrifício de Cristo, não sendo, assim, regras vigentes no
culto cristão. Contrastando com isso, um apreço pela santidade de Deus e a
memória do que Deus fez para nosso livramento —não da escravidão egípcia, mas
do pecado, por intermédio da morte de Cristo— continua a motivar os cristãos a
um viver santo.
Números
O
nome hebraico desse livro (bemidbar) significa no deserto, sendo
assim o modo mais adequado de descrever seu conteúdo: um tratado inteiramente
ambientado nos desertos do Sinai, Neguebe e Transjordânia.
O último versículo de Números resume o todo ao dizer: “São
estes os mandamentos e os juízos que ordenou o Senhor,
por intermédio de Moisés, aos filhos de Israel nas campinas de Moabe, junto ao
Jordão, na altura de Jericó” (36.13). O versículo final dá a entender que
Números instrui Israel a respeito dos pré-requisitos para obter posse da terra
prometida e desfrutá-la.
Tema
O livro de Números é mais que um mero diário de viagem que
narra a jornada de Israel desde o monte Sinai até as planícies de Moabe. As
narrativas e leis em Números apresentam as condições para que Israel pudesse
ter posse da terra prometida e a desfrutasse.
Números documenta que quando o povo de Deus era fiel às
condições da aliança, a viagem e a vida corriam bem para ele. Quando era
desobediente, porém, pagava o preço com derrotas, atrasos e mortes no deserto.
O livro, portanto, ensina às gerações posteriores que a conformidade com a
aliança traz bênção, mas a rejeição da aliança acarreta tragédia e sofrimento.
Números também documenta a organização efetiva das tribos
para formar uma comunidade religiosa e política distinta para a conquista e
ocupação de Canaã.
Formas literárias
Grande parte de Números descreve um período aproximado de
quarenta anos da história de Israel quase em forma de “diário”. Ao que parece,
Moisés manteve um livro em que anotava eventos significativos que pudessem
constituir, e constituíram, suas memórias pessoais
V. Além do material narrativo, Números
contém listas de censo, um manual de
organização
para acampamento e marcha e regras para as ordens sacerdotal e levítica. Também
contém leis de sacrifícios e rituais, instruções acerca da conquista e divisão
da terra e leis regulamentando heranças.
Propósito e teologia
O material diversificado de Números aponta para um alvo comum
— a posse da terra prometida por Deus aos patriarcas. Mesmo os textos legais de
Números prenunciavam a vida na terra prometida. Esses textos regulamentavam seu
culto e mantinham sua pureza.
ESTRUTURA DO TEXTO
A ORGANIZAÇÃO DE
ISRAEL PARA A CONQUISTA DA TERRA PROMETIDA
|
1.1—10.10
|
a
organização das tribos para a
guerra
|
1.1—2.34
|
A organização dos
levitas para o culto
|
3.1—4.49
|
A preservação da
pureza do povo de Deus
|
5.1—6.27
|
A provisão de uma
morada para Deus no acampamento
|
7.1—8.26; 9.15
|
A celebração da
Páscoa e a saída do acampamento
|
9.1—10.10
|
A REJEIÇÃO DA
PROMESSA DIVINA DE TERRA
|
10.11—14.45
|
Saudades do Egito
|
11.1-35
|
A rejeição do profeta
de Deus
|
12.1-15
|
A rejeição da dádiva
divina de terra
|
13.1—14.15
|
A PEREGRINAÇÃO FORA
DA TERRA PROMETIDA: A JORNADA NAS PLANÍCIES DE MOABE
|
15.1—22.1
|
A rejeição do
sacerdote de Deus
|
16.1-50
|
A legitimação do
sacerdote de Deus
|
17.1-13
|
Sacerdotes, levitas e
pureza
|
18.1—19.22
|
A falta de confiança
na palavra de Deus
|
20.1-13
|
Jornada a Moabe
|
20.14—22.1
|
A LUTA CONTRA OS
OBSTÁCULOS À TERRA PROMETIDA POR DEUS
|
22.2—25.18
|
A ameaça externa
|
22.2—24.25
|
A ameaça interna
|
25.1-18
|
UMA NOVA PREPARAÇÃO
PARA A CONQUISTA
|
26.1—36.13
|
Um sucessor para
Moisés
|
27.1-23
|
Instruções para o
culto na terra prometida
|
28.1—30.16
|
A manutenção da
pureza de Israel
|
31.1-54
|
Um novo retorno
|
32.1-42
|
Lembrança da jornada,
prenúncio da conquista
|
33.1—36.13
|
A mensagem para hoje
Deus desejava o melhor para os antigos israelitas — dar-lhes
uma bela terra como lar. Assim também, Deus deseja o melhor para as pessoas
hoje.
A história da peregrinação de Israel, partindo do Sinai, o
lugar de seu compromisso inicial com Deus, até as planícies de Moabe, onde
Israel manifestou-se disposto a concretizar todas as promessas de Deus, lança
luz sobre a experiência cristã. É evidente que Israel, como os fiéis de hoje,
experimentou tempos de fracasso abismal. Então e agora, a rebelião contra Deus
traz conseqüências medonhas, mas aqueles que se apegam as promessas de Deus são
recompensados.
O valor ético
A resposta de Israel à liderança de Moisés e Arão e às
exigências da aliança em geral ditou o grau de sucesso ou fracasso que
caracterizou sua jornada pelo deserto. A forte mensagem ética que ressoa em
alto e bom som em Números é que Deus possui um plano que leva à bênção. Mas o
plano é construído em torno de princípios e práticas de comportamento que não
podem ser abrandados ou negociados.
Deuteronômio
O
nome Deuteronômio (do grego traduzido por segunda lei) surgiu da
tradução dada pela Septuaginta à frase hebraica que significa um traslado
desta lei (Dt 17.18). Deuteronômio não é uma segunda lei, mas uma ampliação
da primeira, dada no Sinai.
Em décadas recentes, os estudiosos têm chamado atenção para
os paralelos notáveis entre o livro de Deuteronômio e os tratados hititas e
assírios.
Israel havia completado quase quarenta anos de peregrinação
pelo deserto e estava para entrar na terra de Canaã e ocupá-la. A antiga
geração rebelde havia morrido. A nova geração tinha de ouvir a aliança que Deus
fizera com seus pais no Sinai e atender a ela. Moisés repetiu a história da
fidelidade de Deus e exortou a nova geração a ser obediente aos mandatos da
aliança. Ele repetiu os termos da aliança, mas com emendas e restrições
adequadas à nova situação de conquista e estabelecimento que estava por vir.
Tema
O tema geral de Deuteronômio são os relacionamentos da
aliança. Na revelação inicial da aliança, o Senhor declarou que ele havia
libertado seu povo do Egito “sobre asas de águia” e depois o tornara seu povo
de propriedade especial, um “reino de sacerdotes e nação santa”. A vocação dele
era ser um povo de servos que mediaria a graça salvadora de Deus a todas as
nações da terra. Deuteronômio continua esse tema destacando a eleição divina de
Israel. Essa função de povo escolhido devia ser vivenciada dentro de linhas
claramente definidas.
Formas literárias
Há amplo consenso de que Deuteronômio é moldado segundo
fórmulas bem conhecidas de tratados do antigo Oriente Próximo. Ainda que a
tradição dos antigos tratados forneça a estrutura geral e o esboço do livro,
Deuteronômio acrescenta exortações, poesia e outras abordagens adequadas a seu
caráter mais amplo como um sermão de despedida de Moisés.
Propósito e teologia
O livro de Deuteronômio primeiro declara novamente a aliança
entre Javé e Israel para a geração reunida nas planícies de Moabe antes da
conquista de Canaã sob Josué. Em segundo lugar, a mescla de exortações e
prescrições da aliança em Deuteronômio dá a entender que o livro devia registrar
as palavras de admoestação, encorajamento e alerta de Moisés para a
posteridade.
A teologia de Deuteronômio não pode ser separada de seu tema
e forma. Como um documento influenciado pela forma dos textos de aliança, ele
se torna o veículo pelo qual o Deus soberano expressa seus propósitos
salvadores e redentores para sua nação serva, seu reino de sacerdotes a quem
elegeu e libertou da escravidão em resposta a antigas promessas patriarcais.
ESTRUTURA DO TEXTO
O AMBIENTE DA ALIANÇA
|
1.1-5
|
LIÇÕES DA HISTÓRIA DO
POVO DE DEUS
|
1.6—4.40
|
Fracassos e sucessos
na rota para a terra prometida
|
1.6—3.29
|
Guardar os
mandamentos de Deus; evitar a idolatria; maravilhar-se com os atos salvadores
de Deus
|
4.1-40
|
A instituição das
cidades de refúgio
|
4.41-43
|
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA
ALIANÇA
|
4.44—6.25
|
O coração da aliança:
os Dez Mandamentos
|
5.1-21
|
A função de Moisés
como mediador da aliança
|
5.22-33
|
O princípio mais
básico: amor a Deus completo e exclusivo
|
6.1-25
|
PRINCÍPIOS
SUPLEMENTARES DA ALIANÇA
|
7.1—11.32
|
A destruição total
dos cananeus
|
7.1-26
|
Javé como a fonte de
bênção em Canaã
|
8.1—9.6
|
A função de Moisés
como mediador da aliança e intercessor
|
9.7—10.11
|
Amor a Javé e amor
aos necessitados
|
10.12-22
|
A obediência como
prova do amor a Deus
|
11.1-32
|
AS MALDIÇÕES E
BÊNÇÃOS DA ALIANÇA
|
27.1—28.69
|
A assembléia em
Siquém
|
27.1-10
|
As maldições que
seguem a desobediência a estipulações específicas
|
27.11-26
|
As bênçãos que seguem
a obediência a estipulações gerais
|
28.1-14
|
As maldições que
seguem a desobediência a estipulações gerais
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28.15-68
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A RENOVAÇÃO DO
COMPROMISSO COM A ALIANÇA
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29.1—30.20
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Lembrança dos atos
salvadores de Deus
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29.1-9
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Previsão de rebeldia
por parte de Israel, julgamento de Deus e graça no arrependimento
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29.10—30.10
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A opção entre seguir
a Deus e viver ou rebelar-se e morrer
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30.11-20
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O FUTURO DA ALIANÇA
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31.1—29
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Deus como o
verdadeiro líder de seu povo
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31.1-8
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A palavra de Deus a
ser registrada e lida
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31.9-13
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A provisão de Deus
para o futuro: um líder, um cântico, um livro da lei
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31.14-29
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O CÂNTICO DE MOISÉS
SOBRE A FIDELIDADE DE DEUS E SOBRE A INFIDELIDADE DE ISRAEL
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31.30—32.43
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A CONCLUSÃO DO
MINISTÉRIO DE MOISÉS
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32.44—34.12
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Interlúdio narrativo:
o anúncio da morte de Moisés
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32.44-52
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O último ato de
Moisés: a bênção sobre Israel
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33.1-29
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Epílogo narrativo: a
morte de Moisés
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34.1-12
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A mensagem para hoje
Deuteronômio foi dirigido especificamente para uma geração
mais jovem de Israel prestes a entrar na terra prometida. Entretanto, transmite
princípios e verdades teológicas eternos e adequados à igreja e ao mundo de
hoje. Aquela nova geração de israelitas serve como um modelo de povo de Deus em
todas as eras. Nós, a exemplo deles, somos um povo com um passado em que Deus
agiu para nossa salvação e revelou sua vontade para nossa vida. Mas não basta
possuir orgulhosamente uma herança de fé. Nós, como eles, somos um povo com um
presente. Precisamos também nos dedicar pessoalmente a Deus hoje. Por fim, nós,
a exemplo deles, somos um povo com um futuro que depende de nossa fidelidade
contínua a Deus.
A aliança de Deuteronômio prenuncia aquela nova aliança —não
escrita em pedra, mas no coração dos homens (Jr 31.33-34)— que por fim se
cumpre em Cristo (Mt 26.28; Mc 14.24; Lc 22.20). O Deus de Israel redimiu o
povo da servidão e do caos e escolheu identificar-se com eles numa aliança
eterna. Em seu filho Jesus Cristo e por meio dele, ele oferece pela graça o
mesmo para todos os povos, em todos os lugares.
O valor ético
O freqüente apelo de Deuteronômio
ao amor de Deus (6.5; 10.12; 11.1, 13, 22; 19.9; 30.6, 16, 20) mostra que o
alvo da lei do Antigo Testamento era não o legalismo, mas o serviço inspirado
no amor. Aliás, quando foi questionado sobre a maior das leis do Antigo
Testamento, Jesus citou Deuteronômio 6.4-5. O amor de Israel —como o do cristão
(1Jo 4.19)— está firmado numa experiência anterior do amor remidor divino. O
amor de Israel por Deus —de novo como o do cristão (1Jo 3.18; 4.20-21)— só é
amor verdadeiro à medida que se estende aos outros (Dt 10.19). Os Dez
Mandamentos sublinham que Deus exige não só respeito do povo (5.6-15), mas
respeito para com outros povos (6.16-21). Embora os Dez Mandamentos possuam uma
qualidade não condicionada pelo tempo, são verdadeiramente pertinentes somente
aos que têm um compromisso com o Deus que está por trás deles.
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