PRIMEIRA PARTE – A BÍBLIA



 

Nome, Conteúdo e Características da Bíblia


A palavra Bíblia vem do grego bíblia, que significa livros ou rolos (2Tm 4.13). A palavra Escritura deriva do latim scriptura, que significa escrito (2Tm 3.15).
Palavra traduz o hebraico dabar e o grego logos. Os dois termos são empregados na Bíblia mais em referência ao que é falado e não tanto ao que se escreve. Em português empregamos o termo palavra igualmente em referência ao que se escreve e ao que se fala. Podemos empregar essas três expressões como títulos do nosso livro sagrado porque a própria Bíblia não indica que título devemos usar.
O Antigo Testamento refere-se à antiga aliança de Deus com Israel e o Novo Testamento está associado à aliança com Cristo, portanto uma nova aliança. Ambos se apresentam como as duas divisões principais da Bíblia.
A maior parte do Antigo Testamento foi escrita em hebraico e alguns capítulos em aramaico. O Novo Testamento foi escrito em grego que era a língua mais difundida naquela época.
            Além das divisões mencionadas, existem nos dois testamentos grupos de livros, a saber: 1) no Antigo Testamento: livros da lei, livros históricos, livros de sabedoria e livros proféticos; 2) no Novo Testamento: evangelhos, Atos, epístolas e Apocalipse.
Nesses diversos grupos encontramos gêneros literários diferenciados como histórias, parábolas, provérbios, leis, doutrinas, etc.
            A Bíblia foi escrita num período que abrange mais de mil anos, pelas mãos de diversas pessoas, em locais diferentes e com propósitos variados. Mas mesmo assim ela revela unidade na apresentação de uma mensagem sobre Deus.
Por outro lado, a Bíblia é tanto histórica quanto contemporânea, pois embora sendo arraigada nas culturas, línguas e tradições da Antigüidade, também é poderosa para tocar a vida dos leitores atuais.
Apresenta uma mensagem simples e ao mesmo tempo complexa, fazendo dela o livro mais estudado do mundo. É um livro igualmente humano e divino, escrito por homens sob a inspiração divina.

A Inspiração e a Autoridade da Bíblia

 
            A autoridade bíblica é uma necessidade porque, apesar de sermos capazes de obedecer a Deus de modo voluntário não temos o conhecimento sobre Ele, sobre a sua natureza e vontade. Isso ocorre, primeiramente porque os seres humanos são limitados e Deus é ilimitado, sendo impossível que façamos uma descoberta de Deus. Em segundo lugar, não conseguimos conhecer a Deus por causa do pecado, que nos fez cegos diante do conhecimento e entendimento de Deus. Essas duas dificuldades exigem que Deus tome a iniciativa para que ele possa se tornar conhecido.
            Entretanto, há dois tipos principais de revelação: a geral e a especial. A revelação geral é assim chamada tanto por sua disponibilidade a todas as pessoas de todas as épocas, quanto por seu conteúdo menos específico. Consiste na automanifestação de Deus por meio da natureza, da história e da personalidade humana.
A entrada do pecado arruinou o conhecimento natural de Deus por meio da revelação geral, além de ter rompido o relacionamento com ele. Portanto torna-se necessário um conhecimento mais completo que é a revelação especial.
            Na revelação especial Deus age de diversas formas. Uma dessas formas é o discurso divino, isto é, a forma como Deus  “falou” (aos profetas e aos apóstolos) de diferentes modos: em forma de visões, sonhos, ou seja, por vários meios de comunicação das suas verdades aos seres humanos.
Os atos de Deus também fazem parte deste processo de revelação divino. A encarnação é a terceira e mais completa forma da revelação especial de Deus, pois ajuda-nos a entender como Ele é.
Quanto à sua natureza, a revelação constitui um encontro com a Pessoa e não a comunicação de verdades acerca de Deus. Assim, as declarações encontradas na Bíblia são declarações falíveis, feitas por seres humanos que tentaram expressar o que lhes aconteceu em 
seu encontro com Deus. Semelhantemente, quando nos encontramos com Deus ao ler a Bíblia ou ao escutar sua pregação, podemos afirmar que temos uma revelação.
            O conceito de revelação se constitui apenas em parte da resposta ao problema do conhecimento de Deus, havendo, por outro lado, a questão da preservação da revelação, que se dá pela inspiração, atividade do Espírito Santo na direção e na orientação dos autores das Escrituras. Em outras palavras, a inspiração preservou ou registrou o que Deus havia revelado, e o documento que resultou desse processo encerra a mesma autoridade e o mesmo efeito de um pronunciamento direto do próprio Deus.
            Há várias teorias sobre a inspiração: a teoria da intuição (capacidade de perceber ou de intuir as verdades espirituais), a teoria da iluminação (vê a obra do Espírito Santo na inspiração como estímulo da capacidade natural do escritor), a teoria dinâmica (o papel do Espírito Santo na orientação dos pensamentos), a teoria verbal (a inspiração garantiu uso de palavras que Deus queria) e a teoria do ditado (Deus prescreveu as palavras aos autores, como alguém que dita uma carta).
            Além da inspiração temos a questão da inerrância da Bíblia. Ela garante que podemos confiar na Bíblia. A inerrância não exige que as declarações da Bíblia não permitam aproximações ou números arredondados, que não se usem expressões verbais populares nem que questões científicas sejam descritas do modo como se apresentam aos olhos.
            No entanto, mesmo sendo a Bíblia a verdade revelada e inspirada por Deus, ainda torna-se necessário que as pessoas entendam a Bíblia e nela creiam, para que ela tenha algum valor real para elas. Isso ocorre através da iluminação, que significa que além da mensagem externa ou objetiva das Escrituras, os salvos contam com o testemunho interno e subjetivo do Espírito Santo.
            A seqüência fica assim completa. Deus se fez conhecido a nós por meio de um processo chamado revelação. Ele preservou essa verdade mediante a inspiração, de modo que a Bíblia contém sua mensagem da forma que ele pretendia. Pela obra de iluminação do Espírito Santo, somos capazes de entender essa mensagem perfeita. Assim, ela é aquilo que Deus queria que conhecêssemos e fizéssemos, e portanto possui autoridade. Ela tem o direito de prescrever aquilo em que devemos crer e o que devemos praticar, pois Deus tem tal direito.

A Canonicidade da Bíblia

 
A Bíblia é uma coleção de escritos detentores de autoridade infalível para a fé e vida da igreja. A palavra cânon deriva fundamentalmente de uma palavra semita que significa junco, de onde vem o sentido figurado de vara de medir ou régua. Daí deriva o sentido geral de norma ou padrão e, por fim, lista ou rol. Aplicado a Bíblia, cânon refere-se à lista de escritos reconhecidos pela igreja cristã como única regra de fé e prática.
A compreensão dos detalhes do processo de reconhecimento do cânon do Antigo Testamento é muito sutil. Os elementos miraculosos associados à recuperação das Escrituras por intervenção de Esdras não se fazem presentes na literatura judaica posterior, mas a sua participação na reunião e organização dos livros pode ser encontrada tanto nos relatos dos judeus como dos cristãos.
Apesar de as principais correntes da igreja cristã aceitarem a autoridade do cânon hebraico, existem divergências quanto ao grupo de escritos, chamados “apócrifos”. Esses textos são considerados partes do Antigo Testamento por vários grupos de cristãos, como os católicos e os cristãos ortodoxos.
Mesmo dotados de autoridade desde o princípio, os documentos neotestamentários foram reunidos e distinguidos de outras literaturas da época somente num processo paulatino que durou vários séculos, processo esse natural e resultante das circunstâncias e da perspectiva dos primeiros anos da igreja.
O fato de que o cânon está definido flui da confiança de que Deus em sua providência não somente inspirou os autores das Escrituras a escreverem exatamente o que ele queria transmitir à igreja, mas também supervisionou a preservação e compilação dos textos.
 
A Singularidade da Bíblia
            A Bíblia, a Palavra de Deus escrita, teve papel único na formação da cultura ocidental, hoje uma força que predomina no desenvolvimento global da política, da economia e das relações sociais. Ela tem esse trânsito porque não foi lida apenas como a história de uma raça, mas de toda a humanidade. Assim, ela revela-se singular em sua universalidade, em seu impacto na história e na sua comunicação.
A Bíblia convida homens e mulheres a louvar o Criador em virtude de sua abundância na natureza. Vemos isto no livro de Salmos através dos hinos que falam da glória de Deus no universo e sobre a terra. Esse é o caráter da universalidade cósmica da Bíblia.
            Por ter como origem o Deus do céu e da terra, a Palavra dirige-se a todos os povos de todas as raças, a homens e mulheres, ricos e pobres, adultos e crianças, sãos, enfermos e pessoas que sofrem. Esse é o caráter da universalidade social da Bíblia.
            A revelação de Deus por meio da Bíblia trata de todos os aspectos da vida. Portanto, ela é única no meio dos livros religiosos simplesmente cheios de encantamentos sagrados, fórmulas secretas ou descrições das experiências especiais do fundador de algum grupo religioso. A Bíblia trata da vida como um todo, quer nos aspectos religiosos, quer nos seculares. Esse é o caráter da universalidade completa da Bíblia.
            A Bíblia é o único livro que descreve uma história mundial com início e conclusão definidos no ato divino de revelação. E por isso ela se torna singular em seu impacto na história por conter a mensagem do poder de Deus na história. Em virtude dessa ação divina, não é necessário que a Bíblia proteja heróis, mas é franca quando se refere aos eleitos de Deus.
            Pode-se dizer que ela é uma mensagem que traz uma revelação geral, histórica e especial, além de ser aplicável a cada um dos seus leitores ainda nos dias de hoje. O texto inspirado pressupõe uma mente iluminada para a compreensão da palavra. Nesse particular a Bíblia é impar quando comparada com outros livros; é o meio singular que Deus escolheu para se comunicar, pois através da iluminação do Espírito Santo todo cristão nascido de novo tem condições de compreender a vontade de Deus pela leitura das Escrituras e pela participação nos cultos com seus irmãos.
            Em última análise, toda ação cristã tem por foco a fé em Cristo e por esse motivo a Bíblia é compreendida pela fé. Sl 119.103-105.
 
A Unidade e a Diversidade da Bíblia
A despeito de toda a diversidade presente na Bíblia, é impossível deixar de perceber toda a unidade que se encontra em suas páginas. A unidade da Bíblia se deve ao seu autor divino. Destacam-se vários aspectos dessa unidade e a importância que ela encerra. Talvez o mais importante seja o fato de a história bíblica se apresentar como um todo coerente.
Dentro dessa unidade essencial da Bíblia acha-se uma diversidade em grande escala. Uma parte do Antigo Testamento é substituída no Novo. Todavia, esse elemento de descontinuidade não exclui uma forte linha de continuidade. A mesma inspiração divina que caracteriza os profetas do Antigo Testamento também se faz presente nos apóstolos do Novo.
A tarefa dos que estudam a Bíblia é fazer justiça à unidade das escrituras, sem desprezar os elementos da diversidade. Nenhum dos dois elementos deve ficar de fora em detrimento do outro.
A questão da relação entre os testamentos foi muitas vezes discutida pela igreja antiga. De início, ambos os testamentos eram aceitos como Escritura. Textos do Antigo e do Novo Testamento citados em posição de igualdade.
A autoridade e a interpretação da Bíblia tornaram-se pontos centrais na Reforma Protestante. Já nos primeiros anos do século XX, muitos estudiosos endossaram o conceito de revelação progressiva. Passou-se por um período de depreciação radical do Antigo testamento, sendo que hoje se pode afirmar a existência de uma relação teológica entre os dois testamentos como resultado do pensamento dos estudiosos evangélicos.  
O Antigo Testamento tem muito que dizer de sua relação com o Novo. Embora concentrado no passado, o Antigo Testamento não deixa de ter um elemento prospectivo. O Novo Testamento, por sua vez também olha em clara retrospectiva para o Antigo. Os autores do Novo Testamento criam piamente que o Messias já viera, que o dia do Senhor chegara e que o povo de Deus estava prestes a ser renovado. Pode-se, assim, resumir a unidade da Bíblia: o Antigo Testamento e o Novo são igualmente Escrituras à medida que ambos apontam para Cristo, o centro da fé cristã. 
 
A unidade da Bíblia também se evidencia nos ensinos sobre temas variados. Alguns deles são:
 - a doutrina de Deus a Bíblia ensina que há um só Deus, mas ensina também que ele é um Deus de amor e de perdão e que salva. A unidade da Bíblia é um grande medida um atestado desse fato.
- a nova aliança a Bíblia concentra-se essencialmente na história da salvação. O Novo Testamento leva adiante os princípios do Antigo, mas não contradiz a lei.
 
- a morte de Cristo temos na cruz de Cristo a mais alta expressão do amor e da justiça de Deus. A morte de Cristo foi o ponto alto e a coroa do sistema de sacrifícios do Antigo Testamento.
 
 
Jesus Cristo e a Bíblia
            Jesus Cristo é o critério pelo qual se deve interpretar a Bíblia. O tema de Jesus Cristo e a Bíblia pode ser dividido em duas partes: a questão histórica, que trata da forma como Jesus empregou a Bíblia durante seu ministério e a questão hermenêutica, onde há uma relação particular entre Jesus Cristo e a forma pela qual os cristãos devem interpretar as Escrituras.
            Na questão histórica especialistas cristãos dividem-se na questão de quantos trechos do Antigo Testamento citados nos evangelhos são palavras de Jesus e quantos representam citações bíblicas da igreja do primeiros século.
            Alguns estudiosos evangélicos sustentam que Jesus conhecia a maior parte do Antigo Testamento de hoje e o tratava como histórico. Cristãos conservadores tendem a ver Jesus como a “mente criativa” subentendida em todo processo de interpretação que a igreja do primeiro século fazia do Antigo Testamento.
Jesus não procurou fazer um comentário de natureza legal das Escrituras, versículo por versículo, mas tinha a mesma preocupação dos rabinos com a aplicação das Escrituras para o ambiente de sua época. Além disso, Jesus procurava ver um modelo (tipo) em uma pessoa ou acontecimento que se relaciona com uma pessoa ou acontecimento posterior (antítipo).
A resposta mais simples e direta à questão hermenêutica é a que se oferece pela interpretação cristocêntrica, que procura primeiramente entender uma passagem das Escrituras em seu próprio horizonte e desenvolvimento histórico e somente depois avaliar as conclusões hermenêuticas pelo critério de Jesus Cristo.
Desde os tempos da Reforma, um elevado número de estudiosos cristãos tem apresentado uma grande variedade de respostas à questão hermenêutica. A abordagem canônica é uma forma útil e contemporânea de situar a interpretação bíblica ao redor de Jesus Cristo. A interpretação teológica das Escrituras, assim, torna-se “fé que procura entendimento”. Jesus Cristo, a Palavra de Deus encarnada, é aquele de quem a Palavra escrita de Deus dá testemunho.
 

FONTE:
Edições Vida Nova e Co-Instruire – Consultoria e Assessoria em Educação
 
 

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