INTRODUÇÃO
A Bíblia é a Palavra de Deus, que nos chega por
intermédio das experiências do povo de Deus. Ela expressa todas as emoções da
vida de fé e trata de muitas áreas da experiência humana que podem parecer
seculares ou não espirituais.
Em nenhum lugar isso é mais verdadeiro que na
literatura poética e de sabedoria. Os salmos expressam todas as emoções que o
fiel encontra na vida, sejam elas louvor ou amor a Deus, ira contra aqueles que
praticam a violência e o dolo, lamento e perplexidade pessoal ou apreço pela
verdade de Deus.
Tradicionalmente, falamos de Salmos e de Cântico dos
Cânticos como os livros de poesia bíblica, e de Jó, Provérbios e Eclesiastes
como de sabedoria bíblica. Os cinco livros chamados Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes e Cântico dos Cânticos ainda nos fornecem os melhores exemplos de
como ler hinos, cânticos, provérbios e reflexões da Bíblia.
Muitos dos temas e das características das
literaturas egípcia, cananéia e mesopotâmica são encontrados no Antigo
Testamento, particularmente nas passagens poéticas e de sabedoria. Entre os
mais comuns estão:
O paralelismo, recurso em que uma
linha de poesia é seguida por uma segunda que de algum modo reitera ou reforça
a primeira.
No quiasmo, a segunda linha reforça a
primeira com inversão da seqüência de palavras ou frases.
Os provérbios numéricos enumeram um
número de elementos ou ocorrências que partilham de uma característica comum.
Num poema acróstico, cada verso ou
seção começa com uma letra sucessiva do alfabeto hebraico.
Recursos retóricos. A linguagem da poesia e da sabedoria bíblica visa
torná-los interessantes e mnemônicos.
Jó
O livro de Jó conta a história de um homem reto (Jó), a quem
Deus, por insistência de Satanás, afligiu para lhe testar a fidelidade e a
integridade.
O ambiente do livro e os paralelos literários
Fora da Bíblia. Os
antigos sábios escreveram muito acerca do sofrimento humano.
A antiga literatura de lamentos com certeza influenciou Jó,
em especial na maneira pela qual ele expressou suas queixas.
Dentro da Bíblia.
Alguns estilos de material bíblico encontrados em Jó são: Lamentos, Hinos de
Louvor, Provérbios, Discurso Profético, Poemas de Sabedoria, Ditados Numéricos,
Questionamento reflexivo, Apocalíptica. Jó não é um livro convencional.
Data e autoria
Ninguém sabe quando ou quem escreveu Jó. Alguns consideram
que ele foi escrito no exílio babilônico, mas o livro não faz alusão a esse
fato ou a algum fato da história de Israel.
Unidade e integridade
Alguns estudiosos asseveram que algumas partes do livro são
acréscimos posteriores —ou seja, não foram escritas pelo autor original e não
são sinceras em suas intenções. Mas o livro fica sem sentido, caso essas partes
sejam eliminadas.
O problema central
O livro de Jó confunde os leitores de hoje. Decerto, alguns
leitores crêem que o prólogo resolve o problema: o sofrimento é um teste da
humanidade num julgamento cósmico diante de Deus e Satanás.
Na realidade, é consideravelmente pouco o que Jó fala do
problema do sofrimento. Entretanto, ainda que o sofrimento seja um fator
importante no livro, a questão central não é por que os justos sofrem, mas por
que a pessoa deve servir a Deus.
ESTRUTURA DO TEXTO
PRÓLOGO
|
1.1—2.13
|
O DIÁLOGO COM OS TRÊS AMIGOS
|
3.1—31.40
|
O monólogo de abertura de Jó
|
3.1-26
|
A primeira resposta de Elifaz
|
4.1—5.27
|
Jó responde e ora
|
6.1—7.21
|
A primeira resposta de Bildade
|
8.1-22
|
Jó responde e ora novamente
|
9.1—10.22
|
A primeira resposta de Zofar
|
11.1-20
|
Jó abre o segundo ciclo
|
12.1—14.22
|
A segunda resposta de Elifaz
|
15.1-35
|
Jó lamenta e ora
|
16.1—17.16
|
A segunda resposta de Bildade
|
18.1-21
|
Jó lamenta e espera
|
19.1-29
|
A segunda resposta de Zofar
|
20.1-29
|
A resposta de Jó
|
21.1-34
|
A terceira resposta de Elifaz
|
22.1-30
|
Jó procura a justiça
|
23.1—24.25
|
A terceira resposta de Bildade
|
25.1-6
|
O último discurso de Jô aos amigos
|
26.1—27.23
|
Um hino à sabedoria
|
28.1-28
|
O último discurso de Jó
|
29.1—31.40
|
OS DISCURSOS DE ELIÚ
|
32.1—37.24
|
OS DISCURSOS DE DEUS
|
38.1—42.6
|
EPÍLOGO: JÓ É RESTAURADO
|
42.7-17
|
O valor teológico
Jó não servia a Deus à toa. Ele
aprendeu que o benefício real de sua piedade não eram a saúde, a riqueza e os
filhos; era o próprio Deus. Deus, o Criador e Juiz de tudo, está
concretizando o triunfo da justiça.
Salmos
O livro de Salmos ou o Saltério é o
hinário do culto israelita e o livro bíblico de devoções pessoais.
Data e autoria de Salmos
O Saltério foi completado só mais tarde na história
israelita. Mas ele contém hinos escritos num período de centenas de anos.
Evidências dos sobrescritos. Uma fonte básica de informações a
respeito da data e autoria de cada salmo são os sobrescritos encontrados em
muitos salmos. De acordo com eles, entre os autores estão Davi, os filhos de
Corá, Asafe, Moisés e Salomão.
Significado e confiabilidade dos sobrescritos. Alguns estudiosos, porém,
questionam se os sobrescritos têm por propósito indicar a autoria dos salmos.
A autoria davídica dos salmos. Davi era reputado como cantor e
servo dedicado do Senhor, e nada em sua vida é incompatível com a possibilidade
de ser salmista.
A data dos salmos. Os críticos mais antigos datavam muitos dos salmos na
história posterior de Israel, alguns até no período macabeu. Mas isso já não é
aceito.
A compilação de Salmos
Salmos divide-se em cinco “livros”: Livro i: salmos 1—41; Livro ii: salmos 42—72; Livro iii: salmos 73—89; Livro iv: salmos 90—106; Livro v: salmos 107—150.
Não temos informações precisas quanto às datas em que os cinco
livros de Salmos foram compilados nem quanto aos critérios de compilação. Cada
um dos cinco livros termina com uma doxologia, e o salmo 150 é uma doxologia de
conclusão para todo o Saltério.
Tipos de
salmos
Ao estudar um salmo, é preciso fazer as seguintes perguntas:
1) Ele era cantado por indivíduos ou pela congregação?
2) Qual o propósito do salmo?
3) Ele menciona algum tema especial, tal como o rei e a casa
real ou Sião?
Fazendo essas perguntas, os estudiosos identificam uma série
de tipos de salmos.
Hinos. Nesse tipo de salmo, toda a congregação louva a Deus por
suas obras ou atributos.
Queixas da comunidade. Nesses salmos, toda a nação expressava suas queixas por
problemas que estava enfrentando, tais como derrota em batalha, fome ou seca.
Queixas individuais. Esses
salmos são como os de queixas comunitárias, com a diferença de serem orações
pronunciadas por indivíduos, não pela nação inteira.
Cânticos individuais de ação de graças. Nesses salmos, uma pessoa louva a
Deus por algum ato salvador.
Salmos reais. Esses salmos tratam do rei e da casa real.
Salmos da Torá. Esses salmos dão instrução moral ou religiosa.
Salmos oraculares. Esses
salmos registram um decreto de Deus.
Salmos de bênção. Nesses
salmos um sacerdote pronunciava uma bênção sobre os ouvintes.
Cânticos de censura. Esses salmos reprovam os ímpios pelo comportamento vil e
prometem que a destruição deles está próxima.
Cânticos de confiança. Nesses salmos o salmista pode enfrentar dificuldades, mas
permanece seguro do auxílio de Deus e proclama essa sua fé e confiança.
ESTRUTURA DO TEXTO
Salmo da Torá
|
Salmo 1, 19, 36-37,
78, 119, 127
|
Salmo real / de
censura
|
Salmo 2
|
Queixa individual /
oração por vitória
|
Salmo 3
|
Queixa individual
|
Salmo 4 a 7, 10, 13,
17, 22, 31, 35, 38-43, 54-59, 64, 69-71, 86, 88, 102, 109, 120, 130, 140-143
|
Hino
|
Salmo 8, 29, 46-47,
76, 92, 96, 98, 103-104, 107, 134, 145
|
Cântico individual de
ação de graças
|
Salmo 9, 30, 138
|
Cântico de confiança
|
Salmo 11, 16, 18, 23,
26-28, 61-63, 139
|
Queixa da comunidade
|
Salmo 12, 44, 60, 74,
79-80, 85, 89, 123
|
Salmo oracular /
cântico de censura
|
Salmo 14, 53
|
Cântico da Torá /
hino processional
|
Salmo 15
|
Oração por vitória /
salmo de bênção
|
Salmo 20
|
Oração por vitória
|
Salmo 21, 144
|
Hino processional
|
Salmo 24, 84, 100, 121-122
|
Salmo penitencial
|
Salmo 25
|
Cântico de testemunho
|
Salmo 32, 34, 131
|
Cântico de casamento
real
|
Salmo 45
|
Cântico de Sião
|
Salmo 48, 50, 65,
125-126, 121
|
Cântico de sabedoria
|
Salmo 49, 73, 133
|
Salmo penitencial
|
Salmo 51
|
Cântico de censura
|
Salmo 52
|
Hino / cântico de
testemunho
|
Salmo 66
|
Salmo de bênção
|
Salmo 67
|
Cântico de vitória /
hino
|
Salmo 68
|
Cântico de coroação
|
Salmo 72
|
Queixa individual /
queixa comunitária
|
Salmo 77, 90
|
Salmo oracular
|
Salmo 81, 82, 87, 95
|
Maldições nacionais
|
Salmo 83, 129, 137
|
Cântico de sabedoria
/ salmo oracular
|
Salmo 91
|
Cântico do reinado do
Senhor
|
Salmo 93, 97, 99
|
Queixa comunitária /
cântico de confiança
|
Salmo 94
|
Salmo votivo
|
Salmo 101
|
Hino de aleluia
|
Salmo 105, 106, 111,
113-114, 117, 146-150
|
Hino / queixa comunitária
|
Salmo 108
|
Salmo real
|
Salmo 110
|
Hino de Aleluia /
cântico de sabedoria
|
Salmo 112
|
Hino de aleluia /
cântico de censura
|
Salmo 115, 135
|
Cântico individual de
ação de graças / hino de aleluia
|
Salmo 116
|
Cântico individual de
ação de graças / hino antifônico
|
Salmo 118
|
Cântico de vitória
|
Salmo 124
|
Salmo de bênção
|
Salmo 128
|
Hino antifônico
|
Salmo 136
|
O valor teológico
Os salmos ajudam os fiéis de hoje a compreender a Deus, a si
mesmos e ao relacionamento que têm com Deus. Os salmos retratam toda gama de
emoções humanas: alegria, desespero, culpa, consolo, amor, ódio, gratidão e
insatisfação.
Provérbios
Apesar do nome, o livro de
Provérbios é mais que uma coletânea de
provérbios. Contém alguns discursos longos e termina com um poema à mulher
virtuosa.
A natureza da literatura proverbial
Toda cultura possui seus provérbios e sua sabedoria
tradicional. Na antigüidade, coletâneas de sabedoria tradicional serviam de
texto para educação de jovens da aristocracia.
Provérbios tem outros aspectos em comum com os escritos de
sabedoria de outras nações do antigo Oriente Próximo: é muito prático, sua
estrutura e organização são semelhantes às de outros escritos de sabedoria. Mas
a sabedoria israelita é diferente da de outras nações por afirmar que Deus é o ponto
de partida na busca da verdadeira sabedoria.
Formas de ensino de sabedoria
Provérbios não é só interessante como leitura, seus ensinos
são também memoráveis. Seguem-se algumas das principais formas de expressão:
Provérbio. Breve observação ética ou um ensinamento cuidadosamente
construído.
Admoestação. Preceito escrito ou em forma de um provérbio curto ou como
parte de um discurso longo.
Ditado numérico. O modelo numérico relaciona elementos que têm alguma coisa em
comum depois de uma introdução.
Ditado do tipo “melhor é”. Segue o padrão: “A é melhor que B”.
Pergunta retórica. Pergunta com resposta óbvia que, ainda assim, leva o leitor
a uma reflexão mais profunda.
Poema de sabedoria. Lições morais.
História exemplar. A história exemplar tem por objetivo ensinar uma lição
moral.
A data e a autoria de Provérbios
O texto diz que os Provérbios de Salomão, os Provérbios de
Salomão transcritos pelos homens de Ezequias, as Palavras de Agur e as Palavras
do rei Lemuel são respectivamente de Salomão, de Salomão conforme transcrição
dos escribas de Ezequias, de Agur e de Lemuel conforme aprendeu da sua mãe.
Não há indícios fortes que nos obriguem a abandonar a
declaração bíblica de que Salomão escreveu a maior parte do livro. Já que não
conhecemos a identidade dos autores, não temos como saber as datas de
composição.
A origem dos provérbios
Dizer que Salomão foi o principal autor de Provérbios não
implica que ele tenha redigido cada provérbio de suas divisões. Com certeza uma
fonte básica da sabedoria israelita era a família, na qual os ensinos
tradicionais eram transmitidos de geração em geração. Uma segunda fonte eram as
escolas em que os escribas tanto compilavam como compunham literatura de
sabedoria.
ESTRUTURA DO TEXTO
OS PROVÉRBIOS DE SALOMÃO
|
1.1—24.34
|
Os discursos de Salomão
|
1.8—9.18
|
Provérbios
|
10.1—22.16
|
Trinta ditados sobre os sábios
|
22.17—24.22
|
Ditados complementares dos sábios
|
24.23-34
|
A COLETÂNEA DE EZEQUIAS
|
25.1—29.27
|
A etiqueta real
|
25.1-15
|
As relações interpessoais
|
25.16-27
|
O trato com pessoas difíceis
|
25.28—26.28
|
A fidelidade no amor
|
27.1-27
|
A opressão e a necessidade da lei
|
28.1—29.27
|
AS PALAVRAS DE AGUR
|
30.1-33
|
Título e prólogo
|
30.1-9
|
Ensinamentos diversos
|
30.10-33
|
AS PALAVRAS DO REI LEMUEL
|
31.1-31
|
Título e prólogo
|
31.1-9
|
Em louvor da mulher virtuosa
|
31.10-31
|
O valor teológico
Provérbios desafia os fiéis a
aprenderem lições de gerações passadas. O livro apresenta as implicações práticas
da confissão de que Deus é o Senhor de tudo que diz respeito à vida.
Eclesiastes
Eclesiastes incomoda muitos
leitores cristãos. Desde o começo, quando declara que tudo é inútil (1.2),
parece ser escandalosamente pessimista e negativo em relação à vida.
Autoria e data
Eclesiastes diz ter sido escrito por um filho de Davi que foi
rei de Israel em Jerusalém. Isso aponta para Salomão, uma vez que, além de
Davi, foi o único que governou Judá e Israel unidos.
A linguagem de Eclesiastes. O hebraico de Eclesiastes é bem incomum e às vezes quase
obscuro.
Evidência interna. Alguns afirmam que o próprio texto insinua que Salomão não
é o autor.
Evidência literária. Certas passagens de Eclesiastes são muito parecidas com
outras literaturas do antigo Oriente Próximo.
Mensagem e propósito
Depois de absorver o choque inicial da leitura de Eclesiastes,
leitores cristãos muitas vezes o descrevem como uma defesa da fé ou até mesmo
como uma obra evangelística.
Muitos leitores têm observado um ceticismo empedernido em
Eclesiastes. Se Eclesiastes é uma obra apologética, é sem dúvida diferente de
qualquer outra defesa da fé já escrita.
Destinado à elite política e intelectual de Israel, o
“pessimismo” do livro faz sentido. Ele estava falando para aquelas pessoas mais
propensas a construir sua vida sobre a base do sucesso, riqueza, poder e
reputação intelectual.
Estrutura
Para o leitor de hoje, Eclesiastes, a princípio, parece não
ter nenhuma estrutura. Uma leitura cuidadosa, porém, mostra que Eclesiastes
avança com cuidado por um grupo de assuntos selecionados.
ESTRUTURA DO TEXTO
Introdução
|
1.1-2
|
Do tempo e do mundo
|
1.3-11
|
Da sabedoria
|
1.12-18, 2.12-17,
6.10—7.6
|
Da riqueza
|
2.1-11,2.18-26,
4.4-8, 5.10—6.9, 11.1-6
|
Do tempo e do mundo
|
3.1-15a
|
Da política
|
3.15b-17, 4.1-3,
4.13-16, 5.8-9, 7.7-10, 9.13—10.17
|
Da morte
|
3.18-22
|
Da religião
|
5.1-7
|
Da sabedoria e da
riqueza
|
7.11-14
|
Da sabedoria e da
religião
|
7.15-29
|
Da política, da morte
e da justiça de Deus
|
8.1—9.6
|
Da satisfação
|
9.7-12
|
Da política e da
riqueza
|
10.18-20
|
Da satisfação, do
tempo e do envelhecimento
|
11.7—12.7
|
Conclusão
|
12.8-14
|
O valor teológico
Eclesiastes desafia seus leitores a viver no mundo como ele
realmente é, em vez de viver em um mundo de falsas esperanças. Eclesiastes
desafia seus leitores a abandonar as ilusões da vaidade, encarar a morte e a
vida com honestidade e aceitar com temor e tremor a sua dependência de Deus.
Cântico dos Cânticos
O nome completo do livro é “Cântico
dos Cânticos de Salomão”. Em hebraico, a expressão Cântico dos Cânticos
na verdade significa o melhor cântico.
Data e autoria
O título provavelmente denota que Salomão o escreveu, mas
pode significar apenas que era parte de sua coleção e que talvez tenha sido
escrito por um cantor da corte.
A razão pela qual muitos estudiosos consideram Cântico dos
Cânticos uma obra mais recente é que parte de seu vocabulário parece
incompatível com uma data mais antiga.
Alguns estudiosos acreditam que Cântico dos Cânticos possui
várias palavras em aramaico. Muitos judeus falavam essa língua durante o
período intertestamentário e neotestamentário.
Indícios geográficos
Cântico dos Cânticos menciona localidades de toda a antiga
Palestina. Isso inclui lugares tanto em Israel ao norte como no território de
Judá ao sul.
Indícios culturais
As imagens poéticas de Cântico dos Cânticos refletem uma
época de grande prosperidade. Isso também apóia a idéia de que o livro foi
escrito nos dias de Salomão.
Indícios literários
O estilo poético que vemos em Cântico dos Cânticos não é raro
no mundo antigo. Do Egito, no período entre 1300 e 1100 a.C. aproximadamente,
procedem muitas canções de amor que apresentam semelhanças notáveis com Cântico
dos Cânticos.
É provável que Salomão estivesse familiarizado com os poemas
de amor egípcios produzidos nos trezentos anos anteriores. Isso explicaria por
que Cântico dos Cânticos tem tanto em comum com seus pares egípcios. Salomão,
afinal, era cosmopolita em erudição e gostos.
A interpretação
Nenhum outro livro da Bíblia (exceto, talvez, Apocalipse)
recebe tantas interpretações radicalmente diferentes quanto Cântico dos
Cânticos. As principais são as seguintes:
Interpretação alegórica. Os judeus o tomam como uma representação do amor entre o
Senhor e Israel, e os cristãos o consideram uma canção sobre o amor entre
Cristo e a igreja.
Interpretação dramática. Nos últimos duzentos anos, muitos intérpretes têm afirmado
que Cântico é uma história teatral.
Interpretação da música de casamento. Alguns afirmam que Cântico dos
Cânticos é uma música de casamento.
Interpretação da canção de amor. A melhor interpretação é a mais
simples e óbvia. Cântico dos Cânticos é uma canção de amor com três papéis —um
homem, uma mulher e um coro de mulheres.
O sentido e a mensagem
Uma razão para o crescimento da interpretação alegórica de
Cântico dos Cânticos é que muitos pensavam que uma simples canção de amor não
devia estar na Bíblia e que, a menos que fosse alegorizada, não se podia
encontrar nela uma mensagem teológica.
Primeiro, como o propósito da Bíblia é servir de guia em
todos os aspectos da vida, Cântico dos Cânticos trata de um dos aspectos
universais da vida humana — amor, casamento e sexualidade.
Segundo, embora o livro ensine pelo exemplo e não por
mandamentos, sua mensagem é clara. O amor que tinham um pelo outro exigia
exclusividade e compromisso.
Terceiro, Cântico dos Cânticos celebra o amor entre um homem
e uma mulher como algo válido e belo, mesmo num mundo decaído e pecaminoso.
Quarto, Cântico dos Cânticos difere de seus pares do antigo
Oriente Próximo num aspecto significativo: não transforma a sexualidade num
ritual sagrado.
Cântico dos Cânticos, portanto, deve ser considerado tal como
é. É uma canção de amor e uma afirmação do valor do vínculo entre um homem e
uma mulher. Dessa forma, o livro aumenta muito o valor que atribuímos à criação
de Deus.
O valor teológico
Os aspectos sexuais e emocionais do
amor entre um homem e uma mulher são dignos de atenção na Bíblia. A sexualidade
e o amor são fundamentais à experiência humana. O amor mútuo entre o homem e a
mulher em Cântico dos Cânticos é uma reafirmação do amor entre o primeiro homem
e a primeira mulher.
Nenhum comentário:
Postar um comentário