HIEBERT,
Paul G. O Evangelho e as Adversidades
das Culturas: Um guia de Antropologia Missionária São Paulo: Vida Nova,
2010.
A Cultura pode
chocar-se com os conceitos bíblicos, constituindo-se num problema para os
missionários, para tanto quando se fala de missões, o trabalho transcultural
requer sensibilidade diante dos costumes e rituais do povo, distinguindo aquilo
que é abominável e o que não é.
Na Bíblia no inicio da Igreja,
em Atos dos Apóstolos, existiam conflitos da parte dos judeus em relação aos
gentios que se convertiam ao cristianismo, houve necessidade de reunir a Igreja
para se tratar de assuntos com respeito à cultura judaica, passamos pelo mesmo
problema hoje quando se falam de missões em outros países, cidades, lugarejos e
bairros. Qual a posição de um missionário diante de varias culturas? Dentre
vários problemas em relação à cultura as mensagens bíblicas devem ser aplicadas
aos distintos contextos culturais. Por tanto, faz-se necessário “unir os
abismos” culturais a partir de uma compreensão clara de si mesmo e do povo a
quem se pretende servir.
Segundo, Paul Hilbert
entende-se de cultura “Os sistemas mais ou menos integrados de ideias,
sentimentos e valores e seus padrões associados de comportamentos e produtos,
compartilhados por um grupo de pessoas que organiza e regulamenta o que pensa,
sente e faz.”
A cultura está dividida em três
níveis. O nível cognitivo que está
relacionado aos conhecimentos compartilhados pelos indivíduos e o modo como
esses conhecimentos são obtidos em seus respectivos sistemas, lugares e Países.
O
nível efetivo que trata de
gostos pessoais e maneira de expressar os sentimentos e por fim o nível avaliador que fala dos elementos
culturais pelos quais os indivíduos de uma cultura são julgados e
avaliados. Concluindo-se que o evangelho
se relaciona com todos eles, sendo muito importantes na conversão. Podendo se
dizer que no Nível cognitivo as pessoas devem entender a verdade do evangelho,
no Nível emocional, devem experimentar o temor e o mistério de Deus e no Nível
de avaliação, o evangelho deve desafiá-las a responder a fé em cristo Jesus.
Manifestações de Cultura
Podemos entender outra parte da
definição de cultura inclui “comportamento e produtos.” O ser
humano está sempre recebendo estímulos do ambiente em que vive e interage, seu
comportamento, ou seja, suas respostas a esses estímulos variam muito de acordo
com cada pessoa. As pessoas aprendem a se
comportarem por meio de sua cultura. Como comer de garfo ou não, usar pratos ou
folhas, como se cumprimentar, etc.
A cultura também inclui
objetos materiais – casas, cestas, canoas, cartas, computadores entre outros.
Como o arco e flecha para nós é um enfeite, mas para um aldeão é o seu meio de
sustento. Como para ele um relógio é um enfeito, mas para nós um instrumento de
controlar o nosso tempo. Se não dermos importância ao comportamento e objetos
ao entrar em uma nova cultura, logo se tornarão comuns e não prestaremos
atenção a eles.
Sistemas de Símbolos
A associação entre dimensões,
comportamentos e produtos é chamada de símbolo. Uma cultura é feita de muitos
conjuntos de símbolos, a união simbólica entre formas e significados é complexa
e variada, a maioria dos símbolos culturais deve ser entendida dentro do seu
contexto histórico e quando eles são criados passam a fazer parte do sistema
cultural. Muitos símbolos utilizados em locais diferentes adquirem significados
diversos. Um indivíduo de terno, num dia útil é um executivo, no domingo é um
crente.
Padrões Culturais
O padrão resulta
do agrupamento de complexos culturais de um interesse ou tema central do qual derivam
o seu significado. O padrão de comportamento consiste em uma norma
comportamental, estabelecida pelos membros de determinada cultura. Essa norma é
relativamente homogênea, aceita pela sociedade, e reflete as maneiras de
pensar, de agir e de sentir do grupo, assim como os objetos materiais
correlatos.
Os indivíduos,
através do processo de endoculturação, assimilam os diferentes elementos da
cultura e passam a agir de acordo com os padrões estabelecidos pelo grupo ou
sociedade. O padrão cultural é, portanto, um comportamento generalizado e
regularizado; ele estabelece o que é aceitável ou não na conduta de uma dada
cultura. Nenhuma sociedade
é totalmente homogênea, existem padrões
de comportamento distintos para homens e mulheres, para adultos e jovens.
Quando os elementos de uma sociedade pensam e agem como membros de um grupo,
expressam os padrões culturais do grupo.
O
comportamento do indivíduo é influenciado pelos padrões da cultura em que vive.
Embora cada pessoa tenha caráter exclusivo, devido às próprias experiências, os
padrões culturais, de diferentes sociedades, produzem tipos distintos de
personalidades, característicos dos membros dessas sociedades. O padrão
forma-se pela repetição contínua. Quando muitas pessoas, em dada sociedade,
agem da mesma forma ou modo, durante um largo período de tempo, desenvolve-se
um padrão cultural.
Exemplos - O matrimônio, como padrão cultural brasileiro,
engloba o complexo do casamento, que inclui vários traços (cerimônia, aliança,
roupas, flores, presentes, convites, agradecimentos, festa, jogar arroz nos
noivos, amarrar latas no carro etc.); o complexo da vida familiar, de cuidar da
casa, de criar os filhos, de educar as crianças.
Ir à igreja aos domingos, assistir ao futebol, comer três vezes ao dia é
alguns dos inúmeros padrões de comportamento que constituem a cultura total.
Cosmovisão
As pessoas percebem o mundo de maneiras
diferentes porque constroem pressupostos diferentes da realidade. Estes
pressupostos são chamados de cosmovisão e estão implícitos em cada uma das três
dimensões fundamentais (Cognitiva, Afetiva e Avaliadora). Os pressupostos
cognitivos, afetivos e avaliadores fornecem às pessoas uma maneira coerente de
ver o mundo, a qual faz que se sintam em casa e lhes garantem estarem certas.
Funções
da cosmovisão
Juntos, os pressupostos
implícitos em uma cultura oferecem as pessoas uma maneira melhor de olhar o
mundo. A cosmovisão pessoal tem várias funções importantes. Primeiro, nossa
cosmovisão nos dá o fundamento cognitivo sobre os quais construímos nosso
sistema de explicações, fornecendo justificativa racional para a crença nesse
sistema. Segundo, nossa cosmovisão nos dá segurança emocional
diante das intempéries. Terceiro, nossa cosmovisão
legitima nossas normas culturais mais profundas utilizadas para avaliar nossa
experiência e escolher modos de agir. Quarto, nossa
cosmovisão integra nossa cultura, organizando nossas ideias, sentimentos e
valores em um único planejamento geral e finalmente, Charles Kraft diz que
nossa cosmovisão monitora a mudança de cultura, seja
por desejo interno ou externo.
Em relação às Implicações para missão, segundo o
autor aborda sobre as diferenças culturais e a sua influência sobre os
mensageiros e a mensagem do evangelho, uma vez que diferentes culturas possuem
símbolos linguísticos e hábitos diferentes, as ideias devem ser expressas em
formas concretas para que haja uma comunicação efetiva entre emissor e receptor.
Fica uma pergunta, o que as pessoas devem fazer com seus velhos hábitos
culturais quando se tornam cristãs, e como os missionários devem reagir a essas
crenças e práticas tradicionais? Os missionários precisam perceber que as
mudanças que introduzem geralmente, têm consequências de amplo alcance em outras
áreas da vida das pessoas, e devem ser sensíveis aos efeitos paralelos não
intencionais.
Do ponto de partida para entender a sociedade é a afirmação de que ela pode
ser compreendida a partir de manifestações específicas. Em função disso podemos
dizer que a compreensão da sociedade somente é possível se nos referirmos a
agrupamentos humanos específicos. E esses agrupamentos também são resultantes
de processos específicos. Disso se conclui que nenhum grupo humano é igual a
outro; pode-se falar de aproximações, mas não podemos nos esquecer de que os
fenômenos sociais não se repetem: nem no mesmo grupo social nem em outros
grupos, distante ou correlato.
Em poucas palavras
podemos dizer que as diferentes construções sociais produzem as diversas
sociedades. Os comportamentos de uma família são distintos de outras; as
manifestações sócio-culturais de uma cidade são distintas de outras; a formação
de cada país é específica e não se repete. Todo povo
tem a sua identidade cultural, ou seja, seus costumes e tradições transmitidas
de geração para geração.
Paul Hiebert trata da relação
entre evangelho e cultura dizendo que embora a teologia bíblica tenha nos sido
dada em um contexto cultural judaico, ela deve ser repassada as outras pessoas
de acordo com o próprio contexto social delas. Ele descreve as varias vertentes
deste tema falando sobre o “Evangelho versus cultura” onde contrapõe os dois
afirmando que o evangelho deve ser separado da cultura, pois, uma vez que ele
não pertence a nenhuma cultura, pode ser comunicado com excelência em qualquer
cultura. Outra vertente é o “Evangelho na Cultura”. Pelo fato do evangelho ser
diferente das culturas humanas, ele deve ser comunicado em formas culturais
distintas, dependendo de onde ele estiver sendo inserido. Finalmente o autor
fala do “Evangelho em relação à Cultura” afirmando que “Nem tudo da Cultura é
condenável”, por outro lado todas têm algumas práticas erradas que foram
depravadas juntamente com a queda do homem, por isso o evangelho pode propor
mudanças para todas as culturas.
“Toda
comunicação autêntica do evangelho em missões deve ser padronizada a partir da
comunicação bíblica e deve procurar fazer com que as boas novas sejam
entendidas pelas pessoas dentro de suas próprias culturas.”
Missionária Rita Santos
REFERÊNCIAS:
· HIEBERT,
Paul G. O Evangelho e as Adversidades
das Culturas: Um guia de Antropologia Missionária São Paulo: Vida Nova,
2010.