O ESTADO INTERMEDIÁRIO DOS MORTOS





INTRODUÇÃO:

Desde os tempos de Agostinho os teólogos têm ensinado que entre a morte e a ressurreição  as almas das pessoas desfrutam de descanso ou sofrem enquanto esperam até que seja a totalidade de sua salvação ou a consumação de sua condenação.

·      No período da Idade Média este ponto de vista continuou sendo ensinado e se desenvolveu a doutrina do purgatório.

·      Os reformadores rechaçaram esta idéia. Calvino inclinou-se a pensar neste estado como uma existência consciente.

·      Em um livro escrito por ele que combatia o pensamento dos Anabatistas de que as almas simplesmente dormiam entre a morte e a ressurreição, Calvino ensinou:

1-   O estado intermediário é uma bem-aventurança como de espera: a bem-aventurança é, por fim, provisional e incompleta.

·      A Bíblia diz muito pouco sobre o estado intermediário e o que diz é meramente incidental a sua mensagem escatológica central a respeito do futuro do homem, que tem a ver com a ressurreição do corpo. Há suficiente evidência bíblica que nos permitem sustentar que ao morrer o homem não é aniquilado e que o crente não é separado de Cristo.

·      É correto dizer que a "alma" do homem continua existindo depois que seu corpo morreu?

1-   Pensamento grego- este é um tipo de pensamento grego ou platônico. Apesar de os gregos terem usado esta palavra "psiche" de um modo não bíblico.

2-   O N.T. utiliza o vocábulo grego que significa alma do mesmo modo.

3-   Estudiosos sugerem o termo "psiche" no N.T. pode ter os seguintes significados:

A-             Vida;

B-             Alma como centro da vida inteira do homem;

C-             Alma como centro da vida que transcende a terra;

D-             Aquilo que possui vida;

E-              Uma criatura vivente e;

F-              Aquilo que deixa âmbito da terra e vive no Hades.

 

4-   Existem 03 casos claros no N.T. em que a palavra "psiche" é usada para designar aquele aspecto do homem que continua existindo depois da morte:

A-             Mt.10.28- Jesus está dizendo que há algo em vocês que aqueles que matam não podem tocar. Esse algo deve ser aquele aspecto do homem que continua existindo após a morte.

B-             Ap. 6.9; 20.4- Nenhuma destas passagens pode referir-se a pessoas que vivem sobre a terra. É óbvio que está fazendo referência aos mártires. A palavra "almas" é usada para descrever aquele aspecto dos mártires que continua existindo depois que seus corpos foram cruelmente mortos.

5-   O N.T. às vezes usa a palavra "espírito" ( pneuma ) para descrever este aspecto do homem: Lc.23.46; Atos 7.59; Hb.12.23.

 
O QUE A BÍBLIA ENSINA A RESPEITO DO HOMEM ENTRE A MORTE E A RESSURREIÇÃO.


1-   O ANTIGO TESTAMENTO.

·      De acordo com o A.T. :

A- A existência humana não termina no momento da morte;

B- Depois da morte o homem continua existindo no âmbito dos mortos, comumente chamado "Sheol". Louis Berkhof sugere um tríplice significado para a palavra "Sheol": estado de morte, túmulo e inferno.

1-   Reino dos mortos- Deve ser compreendido figurativamente como modo de designar  o estado de morte. "Sheol" usa-se com frequência simplesmente para indicar o ato de morrer- Gn. 37.35; 42.38; I Sm. 2.6. Imagens que se aplicam a Sheol:

A-  Um lugar profundo- Jó 17.16;

B-  Lugar de trevas- Jó 17.13;

C-  Monstro com apetite insaciável- Pv. 27.20; 30.15-16; Isa. 5.14; Hc. 2.5.

1-               Os bons bem como os maus descem ao Sheol ao morrer, dado que ambos entram no reino dos morto.

2- Pode ser traduzido às vezes pela palavra "túmulo"- Sl.141.7;

3- Pode significar inferno ou lugar de castigo para os incrédulos-

1-               Sl.9.17- Eliminação pela morte.

2-               Sl.55.15- Ao descer ao sheol "vivos" significaria morte súbita.

3-               Pv. 15.24- Contraste entre a vida e a morte.

4-               No A.T. começa a surgir a convicção de que a sorte dos salvos e dos infiéis não é a mesma:

A-                          Sl. 49.12, 15-  Diferença entre a sorte dos maus e os bons. Os bons serão redimidos do poder da morte, sugere a promessa de ressurreição.

B-                         Sl. 16.10; Atos 2.27, 30-31- Predição da ressurreição de Cristo, pode tbem significar para Davi a confiança de sua própria ressurreição. A esperança do povo de Deus de libertação do sheol já era realidade no A.T.

C-                         Gn.5.24; Nm.23.10; Sl.17.15; 73.14, 24, 26-27- Ensinam a respeito da sorte dos bons e dos maus.

 
2- O NOVO TESTAMENTO


1-   O ensino do N.T.

 

·      O homem não é aniquilado ao morrer mas sim continua existindo ou no Hades ou em lugar de bem-aventurança às vezes chamado de Paraíso ou seio de Abraão.

·      Hades é a tradução comum na Septuaginta  do termo Sheol.

·      O significado do termo Hades no N.T. sem dúvida não é o mesmo que Sheol no A.T.

·      Sheol, no A.T. representava o reino da morte ou às vezes túmulo.

·      Durante o período intertestamentário a palavra Sheol sofreu várias mudanças:

1-   Na literatura rabínica deste período e em alguns escritos apocalípticos começou a emergir o ponto de vista de que existe uma separação especial no reino dos mortos entre os bons e os maus.

2-   Em alguns escritos começou a ser usada a palavra Hades exclusivamente para referir-se ao lugar de castigo para as almas pecadoras mais além do túmulo.

 
A-             Hades no N.T.


1-   Designando o reino dos mortos-

·      Atos 2.27-31- Cristo não foi abandonado no reino da morte. O apóstolo vê aqui o cumprimento do Sl.16.10.

·       Ap. 1.18- Representado como uma prisão com portas.

·      Ap.6.8- Representado em relação estreita com a morte.

·      Ap.20.13- Representado como um reino que entrega seus mortos.

·      Mt. 11.23- Estas palavras são um eco de Isa.14.13-15.

·      Mt.16.18- A expressão "as portas do Hades" é o equivalente grego da frase hebraíca: "as portas do Sheol" que aparece em Isa. 38.10; Jó38.17 e Sl.107.18- expressões que representam o reino dos mortos como uma prisão bem fortificada com fortes portões, dentro da qual estão confinados os mortos.

 

2-   Descrição do lugar de tormento no estado intermediário.

·      Lc.16.19-31- Hades representa o lugar do tormento e sofrimento depois da morte, no entanto o "seio de Abraão" é um lugar ou condição de existência feliz.  Segundo o pensamento judaíco o Hades era o lugar onde os mortos aguardavam o juízo.


B-             O estado intermediário no uso bíblico dos conceitos de Sheol e Hades:


1-   As pessoas não deixam de existir totalmente depois da morte, mas sim vão para "um reino dos mortos".

2-   Neste reino dos mortos os maus permanecerão com a morte como seu pastor. O N.T.  detalha que depois da morte os maus sofrerão tormentos, já antes da ressurreição do corpo ( Lc.16.19-31).

3-   O povo de Deus, sem dúvida, sabendo que Cristo não foi abandonado no reino dos mortos, tem a firme esperança de que tbém será libertado do poder do Sheol.


O ENSINO DO N.T. A RESPEITO DA CONDIÇÃO DOS CRENTES MORTOS ENTRE A MORTE E A RESSURREIÇÃO.
 

·      Há 03 passagens importantes sobre esta questão:

 

1-   Lucas 23.42-43-

·      o ladrão por haver sido presumivelmente criado na fé judaíca , cria em Messias que viria algum dia, talvez no fim do mundo, para estabelecer um reino glorioso. Convencido de que Jesus era tal Messisas, voltou-se e fez o pedido: "Lembra-te de mim quando vieres em teu reino."

·      O ladrão não esperava ser lembrado até algum momento em um futuro muito distante. A resposta de Jesus foi mais do que havia pedido- estar com Ele no Paraíso

A- A palavra Paraíso é usada somente aqui e em outras duas passagens do N.T. :

1-    II co.12.4-Paulo diz que foi levado ao paraíso em uma visão; a expressão paraíso é paralela a terceiro céus do vs. 2. Aqui , paraíso significa o céu, o reino dos mortos bem-aventurados e a morada de Deus.

2-    Apoc. 2.7- Diz respeito à arvore da vida que está no paraíso de Deus- aqui tbém paraíso se refere ao céu, ainda mais ao estado final que o estado intermediário.

B- Concluímos que Jesus prometeu ao ladrão arrependido que ele estaria na bem-aventurança celestial naquele mesmo momento. Não excluía que Jesus se lembraria  dele no momento de sua Segunda vinda, quando virá certa e definitivamente em seu reino, mas afirmou que naquele mesmo dia, imediatamente depois de sua morte,  o ladrão compartilharia do gozo celestial com Cristo.

2- Filipenses 1.21-23

 

·      Vs. 20- Expressou sua confiança de que Cristo seria magnificado em seu corpo, ou através da vida  ou da morte.

·      Vs. 21, 23- "... tendo desejo de partir e estar com Cristo, o qual é muitíssimo melhor."

A-  Analysai ( partir ) é um infinitivo aoristo, que descreve a experiência momentânea da morte.

B-  Vinculado  a  analysai  por  meio  de  um    artigo  está  o infinitivo presente, einai

      (estar).

C- O único artigo vincula dois infinitivos, de modo tal que as ações descritas por estes infinitivos devem ser consideradas como dois aspectos da mesma coisa, algo como duas caras da mesma moeda.

D- O que Paulo está dizendo aqui é que no momento de partir ou morrer, nesse mesmo momento ele estará com Cristo. O que Paulo sabe do estado intermediário é que ele estará com Cristo.

3- II Co.5.1-8- O quer dizer "um edifício de Deus, uma casa não feita por mãos."

A- O edifício de Deus refere-se a um certo tipo de corpo intermediário entre o corpo presente e o corpo da ressurreição: ao morrer os crentes recebem este corpo intermediário, pois na Parousia este corpo intermediário será substituído e superado pelo corpo da ressurreição.

B- O edifício de Deus é o corpo da ressurreição que receberemos na Parousia . O estado intermediário e o corpo da ressurreição são aqui entendidos não como uma alternativa mas como uma conplementação ( consumação ).

Faz-nos entender a o futuro do crente como uma experiência única, ainda que dividida em duas fases pela ressurreição. Ambas compreendem uma experiência gloriosa.

C- O edifício de Deus descreve a gloriosa existência do crente no céu com Cristo durante o estado intermediário.

·      Vs. 1- Aqueles que estão em Cristo, assim que morrem, entram numa gloriosa existência celestial que não é temporal como nossa existência presente mas sim permanente e eterna. A  primeira fase desta existência será incompleta, aguardando a ressurreição do corpo da Parousia , todo este modo de ser, desde o momento da morte até a ressurreição e logo por toda a eternidade, será glorioso.

·      Vs. 2- Enfatiza que, dado que esta vida presente está cheia de aflições, nós os crentes anelamos ser revestidos com nossa habitação celestial- Paulo combina as figuras da habitação e do vestido.

·      Vs. 3- "Edifício de Deus" é o corpo da ressurreição, poderíamos interpretar  a desnudez como uma referência à falta de plenitude da glória deste modo celestial de existência. Neste sentido nossa vida presente está caracterizada por nossa desnudez, a diferença de nosso revestimento eventual com a glória celestial.

·      Vs.4- O desejo de sermos revestidos com nossa habitação celestial, nos faz gemer com angústia. Anelamos esta existência celestial futura, para que a mortalidade de nosso presente modo de ser possa ser absorvida pela gloriosa e eterna vida que nos espera.

·      Vs. 6-8- A morte, que é a transição imediata do estar presente no corpo ao estar ausente do corpo, ao mesmo tempo em que isto aconteça, começaremos a estar presentes com o Senhor.

Isto sugere uma comunhão estreita com o Senhor, dando a entender que a comunhão com Cristo que será experimentada depois da morte será mais rica que a experimentada aqui na terra. Não temos nenhuma descrição da natureza desta comunhão; nem mesmo podemos formar uma imagem da mesma.

A condição dos crentes durante o estado intermediário é uma condição incompleta, de antecipação, de bem-aventurança provisional. Pois nossa glorificação não será completa até que a ressurreição do corpo seja concretizada.
 
 
 
 
 

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